moulin rose
porque temos o direito de nos contradizer. todos os dias se for preciso.

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segunda-feira, junho 13, 2005
mais eugénio de andrade
das imagens com palavras que hoje já vi, retenho algumas: "só escrevo porque tenho necessidade de escrever".
penso em todos os que agarraram um trabalho qualquer só para manter a escrita, só para se manter na escrita: Pessoa, O'Neill, Andrade (Carlos Drummond de e o inevitável Eugénio de)...
penso em todos os dias em que escrevi porque não podia deixar de o fazer. e no porquê de agora não o fazer. a poesia puxa poesia, e isto faz sentido no tempo das cerejas.

aqui está uma de que me lembro de cor porque alguém lhe pôs música (a memória é tão engraçada...) e que se calhar mais valia ter ficado na gaveta...


De repente, fiquei sem nada
Perdi tudo na pressa das coisas adiadas.

Cheguei tarde aos encontros que comigo tinha marcado
Escorreguei na casca de um fruto cuja árvore plantei às escondidas de mim

E peço a quem passa que traga notícias
Do feitio de palavras ou gestos
Ou de outra coisa qualquer.

Nos bolsos menos do que o vazio
Que o vazio seria alguma coisa e eu só tenho grãos de areia
Restos de uma vida que podia ser cheia

Descansei no quarto da lua
Sem saber nem pensar que ela podia minguar.
posted by clarisca at 6:18 da tarde