moulin rose
porque temos o direito de nos contradizer. todos os dias se for preciso.

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sexta-feira, janeiro 06, 2006
meio vazio
Pelo chão, papéis metalizados de várias cores e de formas ridículas enchiam o chão. O pior era pensar na trabalheira que ia dar tirar aquilo tudo na manhã seguinte, sobretudo os que estava já entranhados no tapete, quase fundindo-se com ele de tão espezinhados pela turba ululante. Insuportáveis, os fogos de artíficio sucediam-se na televisão. Naquela sala, como em tantas àquela hora, trocavam-se beijos, abraços, lágrimas furtivas teimavam em mostrar-se. Espectáculo patético, afinal era só uma hora, uma hora qualquer, convenção, arbitrariedade. Incomodado, vim para fora, sem ninguém que me apetecesse abraçar. Quando as manifestações de carinho abrandaram, consegui a voltar chegar perto das gelatinas de vodka, invenção destinada a embebedar sem que o embebedando vá dando conta.
Um grupo juntava os tarecos para ir tomar o primeiro banho de mar do ano. Ideia brilhante, pensei, era só o que faltava, pneumonias a dar com um pau para começar o ano. Levado pela turba, juntei-me ao grupo, jurando que não ia chegar a menos de um metro da água. 4 e meia da manhã, areia gelada, noite sem lua, ou com lua nova, que vai dar ao mesmo no meu olhar. Os mergulhantes avançavam pela escuridão em direcção à maré vazia. Eu segurava as toalhas a quem chegasse. Na segunda volta, já quase todos regozijavam de roupa quente por cima do corpo molhado, desafiado, despi-me e avancei. Dois mergulhos, violentos. Mas mais violento foi o depois, cabelos molhados e salgados a pousar na almofada, o arrepio. Duas horas de meio sono e acordei para o pesadelo do ano novo.
posted by clarisca at 4:14 da tarde