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segunda-feira, novembro 30, 2009 |
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and now for something different
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A leitura de Saramago também me fez pensar no que terá acontecido a esse Deus castigador que mandou torrentes de água como castigo de iniquidades e ordenou a destruição de várias cidades pelo fogo pela mesma ordem de ideias. Pois continua activo: a prova é o castigo que mandou aos executores do seu filho. Berlusconi é o dilúvio dos romanos. A vingança serve-se fria.
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posted by clarisca at 12:14 da tarde |
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Caim vs. Deus
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Li o polémico livro do Saramago. Li, ou melhor, devorei. Um muito querido e igualmente saudoso amigo dizia que a qualidade dos bens culturais se media por aquilo que faziam em nós. E eram tanto melhores quanto melhores nos tornassem. A avaliação do melhor e do pior é complexa e não é para aqui chamada. Mas o livro do Saramago fez-me pensar muito e daí espero que não saia coisa má.
O mais impressionante em Caim é a simplicidade. As alegorias surgem não como tal mas como simples histórias de moral óbvia e isso é que é desconcertante. Muito desconcertante. Aquilo que é tradicionalmente explicado como sendo prova da misericórdia de Deus torna-se, através da pena de Saramago, em prova da sua intolerância. A ideia na origem da obra é brilhante. A sua leitura convida à revisitação do Antigo Testamento, desse Deus olho-por-olho-dente-por-dente. Reconhece-se a necessidade de um Novo Testamento. Inaugura-se agora um novo ano litúrgico, o tempo é de preparação para o Natal, para a chegada desse menino que mudou o cenário. Pretextos de sobra para pegar no livro, nos livros.
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posted by clarisca at 12:01 da tarde |
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sexta-feira, julho 17, 2009 |
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o outro lado do acordo
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No outro dia, entre uma camioneta e uma canoa, falava-se sobre o acordo ortográfico. Eu tinha uma ideia, depois fiquei com outra. Hoje encontrei a ideia, sem acento, que me assenta. Diz o Chico Buarque em entrevista à Ípsilon a propósito do seu último livro, "Leite Derramado":
"Na hora de entregar comunicaram-me que sairia na nova ortografia. A minha primeira reacção foi de renegar. Ideia e geleia sem acento? Mas depois eu mesmo fiz as correcções. Era fácil. Eu fiz e procurei me acostumar. Ainda não entendi até agora qual foi a utilidade dessa reforma ortográfica. Mas a gente se acostuma, como a tudo."
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posted by clarisca at 7:10 da tarde |
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segunda-feira, maio 25, 2009 |
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mais baixela
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O serviço de pratos que usamos todos os dias naturalmente que se vai transformando com o uso. Umas lascadelas aqui e ali, o brilho inicial a embaciar-se, eventualmente as estampagens (se for caso disso) a desvanecer-se.
Passando nas grandes superfícies que fornecem tudo para o lar, podemos sentir a tentação de comprar um serviço novo. Brilhante. Mais moderno. Que fique melhor com a toalha nova para a mesa de sala de jantar que também se vai comprar. E até nem é caro, que isto agora com a deflação até está mais em conta. Enfim, um investimento. Mesmo que se resista à tentação de comprar, não se deixa de olhar, vezes sem conta. "E se eu comprasse?" "Que bom aspecto. " "E se eu levasse só seis para experimentar se a comida sabe melhor?"
Mas e depois? O que fazer ao outro? Há quem vá deixando escorregar paulatinamente os pratos mãos abaixo, escaqueirando de propósito a baixela, conseguindo assim arranjar justificações para comprar novinho em folha. Há quem resista à tentação da novidade, nutrindo um sentimento de quase afeição pelo serviço que há tanto tempo serve de base à comida que serve de base à sobrevivência e ao convívio à volta da mesa. Há quem cuide e vá tratando, com cuidado, aquele serviço mais velhinho, enchendo-se de satisfação cada vez que assenta um prato na mesa (o que resulta em momentos de satisfação diários). É que há serviços que vêm desde o dia do casamento.
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posted by clarisca at 12:37 da tarde |
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terça-feira, abril 21, 2009 |
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Engromino o blogger para escrever no dia em que chegaste. Escolho o último segundo do último minuto daquele que nunca mais vai ser só 21 de Abril. Para ficares já a saber como eu sou: quase sempre atabalhoada, às vezes um bocado aldrabona e frequentemente em cima da hora. [Espero que gostes de mim na mesma] Escrevo porque, ficas também já a saber, tenho algumas dificuldades em falar, em explicar bem o que sinto em voz alta. Funciono melhor com as palavras escritas, quase com toda a gente. Depois há alturas em que quase que vomito (desculpa a imagem feia num dia tão bonito, mas é que também sou um bocado abrutalhada) os sentimentos pela boca. E fico toda contente, tipo "consegui, iupi!". [Espero ter intimidade suficiente contigo para fazer isso pelo menos uma vez nas nossas vidas] Fiquei toda torcida por dentro quando soube que faltava mesmo pouco tempo para tu chegares. Porque gosto muito da tua mãe. Também do teu pai. E outra vez quando te vi. E quando te vi outra vez e finalmente te peguei porque da primeira vez estava mais preocupada com a tua mãe. [Espero que compreendas] Tenho aqui uns amigos para ti. [Espero que se entendam e queiram estar juntos] Tenho aqui umas coisas para ti. [Espero que chegues a casa para te levar] Tenho aqui um coração e uma casa onde serás sempre muito bem vindo. [Espero que queiras por cá passar] E ficas já a saber que para nós és o Guilhas-maravilhas, que gostamos de rimas malucas e outras coisas que tais.
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posted by clarisca at 11:59 da tarde |
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sexta-feira, março 27, 2009 |
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A tigela
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Amarela por dentro, branca com bolas de várias cores por fora. Na verdade, foram compradas duas dessas tigelas. Uma já se foi, levada provavelmente pela inépcia de umas mãos que fazem quase tudo depressa demais, escangalhando baixela e outras coisas que exigem carinho no trato.
Foram compradas para os pequenos almoços, cereais e essas coisas, servidos e comidos ao ar livre. Mas não chegaram lá. Voltaram para trás antes de tempo e encontraram-se enclausuradas num armário, com saídas precárias para acondicionar arroz, esparregado e outros acompanhamentos. Nunca cereais ao pequeno-almoço. Uma, já se disse, entretanto finou-se.
[Com as tigelas foram compradas também duas colheres, daquelas com cabo de madeira, estilo Tramontina, só que de imitação. Se fossem mesmo Tramontina não teriam ido parar a uma gaveta juntamente com outro material de cutelaria inutilizado, à espera de melhores dias, dentro de um saco de plástico.]
E assim a tigela não cumpriu o que para ela havia sido destinado mas transformou-se em metáfora. Apesar o carácter literário deste destino, a tigela preferiria ter servido cereais ao ar livre. Penso eu. Porque a única figura de estilo desta história é a metáfora. Não cabe cá nenhuma personificação, ora essa!
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posted by clarisca at 4:29 da tarde |
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quarta-feira, fevereiro 25, 2009 |
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Contos do absinto
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Celebraram as bodas de prata tão apaixonados como no dia em que se casaram. Só que não era um pelo outro.
[Regresso, 4 meses depois (quatro QUATRO), com vénia ao Mário Henrique Leiria]
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posted by clarisca at 10:02 da manhã |
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